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Respeita nossa história: Maria Montessori

Atualizado: 18 de nov. de 2020

por Juliana Guedes Costa Santos*


Maria Montessori

A pedagoga pioneira dos pensamentos inovadores em educação.

Maria Tecla Artemisia Montessori, pesquisadora, pedagoga e médica italiana, tinha como lema “Educar para a vida”. Até os dias de hoje, ela é conhecida como uma pioneira na área pedagógica por dar destaque à autoeducação do aluno em detrimento à ideia do professor como fonte de conhecimento. Para ela, a educação era uma conquista da criança, pois percebera que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos. Como foi a terceira a se formar em Medicina em seu país, sofreu preconceito
por ser a única mulher, no meio de muitos homens, exercendo essa profissão. Foi, então, trabalhar como assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de
Roma.

Montessori nasceu na Itália em 31 de agosto de 1870. Aos 28 anos, começou a visitar um hospício em Roma e viu, com espanto, como crianças eram tratadas de forma desumana. Alguns romanos iam ao local para atirar-lhes comida, como faziam com os animais do zoológico. Achando tudo aquilo impossível de continuar, decidiu trabalhar para mudar aquela realidade.


Em Turim, num Congresso Médico Nacional, defendeu a tese de que a principal causa do atraso no aprendizado de crianças especiais era a ausência de materiais de estímulo para o desenvolvimento adequado. Logo depois, formou-se em Pedagogia, envolveu-se com a Liga para a Educação de Crianças com Retardo, e foi nomeada codiretora de uma escola especializada.


Ela concluiu em suas pesquisas que a educação deve ser uma técnica de amor e respeito. Para ela, encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante, nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar eram os objetivos que deveriam guiar toda a criança. A educação e a vida não deveriam se limitar a conquistas materiais.


A pesquisadora teve um grande envolvimento em ativismo político e cívico, ajudando na formação de associações de mulheres. Participou de conferências e publicou artigos na imprensa feminista. Filiou-se, também, à Sociedade Teosófica, que valorizava a ação social e a educação das crianças.


O Método Montessori une o desenvolvimento biológico e mental do indivíduo, dando destaque ao treinamento dos movimentos musculares necessários para a realização de tarefas cotidianas. Foi um método revolucionário, que se baseava em confiar nas crianças. Montessori dizia que elas não deveriam ser recompensadas, nem punidas, ou corrigidas, mas sim, respeitadas e, sem interferência, liberadas em um ambiente em que tudo (espaço, móveis, objetos) estivesse sob medida. Essas ideias divergem com o preconceito daqueles que pensam que a criança é essencialmente indolente, preguiçosa e incapaz de encontrar desafios que correspondam às suas competências. O método privilegiava uma educação que pusesse as crianças como centro da atenção em um ambiente que estimulasse as habilidades naturais, como cuidados pessoais, ginásticas e jardinagem. Segundo a Associação Internacional Montessori, um ambiente organizado e atraente composto por materiais didáticos e utensílios da vida cotidiana; classes com alunos com diferentes idades; um professor que atua como guia e só interfere se necessário; materiais multissensoriais que permitam o “aprender fazendo”; liberdade de tempo para que os alunos se dediquem aos assuntos que lhe interessam; e flexibilidade para escolherem o local de trabalho e com quem querem trabalhar (se quiserem trabalhar em grupo), eram elementos essenciais para a prática do método inovador e revolucionário.


Atualmente, seu método tem sido alvo de um paradoxo entre pedagogos. As escolas montessorianas estão em áreas mais abastadas das cidades, dificultando a entrada de crianças mais pobres. O custo anual dessas escolas, hoje em dia, também é bastante elevado, dificultando a inclusão social.


Esse paradoxo não foi o único na vida da pedagoga. Ela passou um estimável tempo de sua vida dedicando-se às crianças, mas não foi responsável por criar seu filho. Ela havia se envolvido com um colega médico, Giuseppe Montesano. Era uma relação livre, sem vínculos, ela não acreditava na instituição do casamento e, naquela época, uma mulher casada não podia trabalhar fora de casa sem a autorização do marido. Montessori descobriu que estava grávida de Montesano. Um filho fora do casamento custaria toda sua vida de trabalho naquele tempo. As duas famílias combinaram que ela daria à luz em segredo. E quando em março de 1898 nasceu um menino, Mário. Eles o registraram como filho de pai e mãe desconhecidos e o entregaram a uma enfermeira para criá-lo. Montesano e Montessori concordaram que os dois cuidariam da criança à distância. Montessori não viu seu filho até o menino completar 15 anos. Mas a partir daquele momento ela lutou para recuperá-lo, mais uma vez desafiando as regras da época.


Seu método obteve mais repercussão no estrangeiro do que em seu país de origem. Esse seria o provável motivo que a levaria a aceitar o patrocínio de Mussolini. Em 1924, ele se reuniria com Montessori para manifestar seu interesse no método educacional em escolas italianas. Ele fora professor durante a juventude e sonhava em fazer das escolas italianas uma fábrica de jovens disciplinados e obedientes. Eles começaram uma estranha colaboração que durou dez anos. Até que, em 1934, decepcionada ao ver que Mussolini não cumpriu suas promessas de transformar as escolas italianas de acordo com seu método pedagógico, Montessori decidiu romper qualquer relação com o fascismo.

Com seu filho, Mário, Maria Montessori criou a Associação Internacional Montessori para divulgar o trabalho, em 1929. Em 1949, Montessori foi nomeada ao Nobel da Paz. Essa nomeação se repetiu em mais dois anos seguintes. Ela não chegou a ganhar nenhum dos prêmios. Muitos acham que isso se deu ao fato de ela ter tido relações com Mussolini. Ela morreu em 06 de maio 1952, aos 81 anos, deixando seu legado até os dias de hoje.

*Juliana Guedes Costa Santos é Cientista social formada pela UFF, cursando licenciatura em sociologia. Apaixonada por tudo que envolva inovação em educação, métodos de ensino e fã do método montessoriano. Pretendo fazer mestrado no próximo ano para pesquisar sobre métodos educacionais utilizados em penitenciárias femininas do estado do Rio de Janeiro.

Referências


VELASCO, Irene Hernández. “A vida paradoxal de Maria Montessori, criadora do método de ensino para crianças pobres que virou modelo para ricos”. BBC, 2020.  Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53972711 Acesso em: 20 set. 2020.


FERRARI, Márcio. “Maria Montessori, a médica que valorizou o aluno”. Nova Escola, 2020. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/459/medica-valorizou-aluno Acesso em: 20 set. 2020.


L’ECUYER, Catherine. “Não, o método Montessori não é ‘aprender brincando’”. El País, 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/18/actualidad/1552896695_886326.htmlAcesso em: 21 set. 2020.


MARASCIULO, Marília. “Quem foi Maria Montessori, pedagoga italiana que revolucionou a educação”. Revista Galileu, 2020. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/03/quem-foi-maria-montessori-pedagoga-italiana-que-revolucionou-educacao.html Acesso em: 21 set. 2020.


Imagem disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/459/medica-valorizou-aluno




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