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Mãos livres



ADORMECIDA ( A DOR MERECIDA )


Lângela Monteiro*


Coloco o dedo na ferida

E envergonhada pergunto:

Essa dor é merecida?

Eles dizem: é culpa da bebida!

Mas ela não estava lá nos primeiros anos de minha vida

Quando o olhar malicioso percorreu todo meu corpo

Aquele corpo de menina

E eu tremi ouvindo “tudo bem, é uma menina libertina!”


Lângela Monteiro - Mulher piauiense, apaixonada pelos livros, feminista e aspirante a poetisa. Acredito que a educação muda o mundo, por isso acadêmica de licenciatura em História pela Universidade Estadual do Piauí.Com medo toda vida.




SEM TÍTULO


Maria Helena Miranda*


Não preciso de nada nem ninguém para aumentar minha solidão.

Fico sozinha a sós.

Não aguento mais.

Dói muito viver não viver.


25 de março de 1983



Maria Helena Miranda – Quase 66anos, aposentada (não da vida), apesar de tudo, insistindo na esperança.





CAMINHADA


Jeovânia P.*


Ando

com o coração em uma cesta de palha

amarrada com um laço de fita

vermelho

muito bonita

como caixa de presente


Ando

sem saber bem

quando

ou onde

encontrarei o dono

desse agrado


Ando

bem ciente

de quem ele é

só que

por um motivo

ou

por outro

meu passo

anda

o dele anda

e ainda

não nos alcançamos


Ando

com ele em mim

ele anda comigo em si

mesmo assim

afastados

mesmo assim

unidos


Ando

com o coração em uma cesta de palha

mesmo assim

não sangra.



Jeovânia P. é poeta e professora. Formada em Filosofia e Letras – Língua Portuguesa pela UFPB, especialista em Educação Interdisciplinar pela UEPB, mestre em Filosofia pela UFPB. Atualmente é aluna especial no programa de doutorado em Letras pela UFPB. Em 2016, lançou “Palavras Poéticas” pela editora Ixtlan. Já em 2019, lançou os livros de poesia: “Poeticamente Entre Versos & Bocas”, pela editora Ixtlan e “A-M-O-R”, pela editora Sangre Editorial, e o livro de contos “Quem abriu a boca da pedra”, pela editora popular Vernas Abiertas. Também idealizou, organizou e lançou a coletânea de poesias e contos “O Livro das Marias”, pela editora Ixtlan. Foi selecionara pelo edital de obras poéticas da UFPB, em 2019, com a obra “Re[s][x]istência”, que está para ser lançada pela editora da UFPB. Já em 2020, organizou e lançou a coletânea de poesias, contos e crônicas “Escritura Negras – A mulher que reluz em mim”. Atualmente, organiza a coletânea “O livro das Marias II”.

COMO HOJE


Maria Cristina Martins*

Quando minha avó fez catorze anos

teria de viver em outra cidade

sozinha

se quisesse continuar os estudos

Sua mãe, minha bisavó

não permitiu

Tantos anos depois

entendo como se fosse hoje

fico triste como se fosse

o dia em que tentei inscrevê-la

num curso de português

para terceira idade

Ela pediu “minha filha,

queria voltar a estudar”

Só tinha vaga para culinária

mas cozinhar era o que

ela mais fazia nessa vida.

Maria Cristina Martins é escritora, jornalista e revisora, atividade que exerce no Arquivo Nacional. Formou-se também em história, participou da coletânea de contos sobre violência e sexualidade do Observatório de Favelas, em 2005, e publicou o livro de poemas "ovos de ferro" pela editora 7letras. Em breve lançará o livro de contos e crônicas "Entre máscaras: histórias do interlúdio", em coautoria, pela editora Urutau. Tem publicado também em revistas, coletâneas e no instagram @farandola.mariacristinamartins.



VONTADE


Meire Martins*

Uma vontade danada De te dar um abraço Desses que transpassa a pele e toca na alma. Uma vontade doida De te tascar um beijo Desses que tira o fôlego e inebria o coração. Uma vontade arretada De me atirar no teu colo e me deixar ficar o dia inteiro Desses que a gente quer que nunca mais termine. Uma vontade insana De sentir o calor do teu corpo Desses que se irradia em meu ser e aquece o meu desejo. Uma vontade imensa de estar com você Sentir teu afago e ser tua Completamente tua.


Meire Martins nasceu em 03 de junho 1982, na cidade de Guaraciaba do Norte, Ceará. Filha de professora e agricultor, ajudava na lavoura quando criança, mas queria mesmo era ser professora como a mãe. Ainda com 16 anos, começou a lecionar através do projeto Alfabetização Solidária. Nos anos seguintes, já com formação para o exercício do magistério (normal), trabalhou no ensino infantil e primeiras séries do fundamental na escola municipal do sítio onde morava. Em 2005 concluiu o curso de Licenciatura Plena em História e Geografia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral (CE). No mesmo ano, mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades de trabalho, onde reside até os dias atuais. Casada desde 2007 com um conterrâneo que conheceu no Rio, tem um filho com ele. Recentemente, concluiu pós-graduação em História do Brasil contemporâneo pela Universidade Estácio de Sá. Inspirada na literatura de cordel que cresceu ouvindo seus familiares recitarem, escreve poemas nas horas vagas.


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