(“É comunista? Vai pra Cuba!” - É tudo o que eu quero, meu filho...)
Amanda Moreira*

Vira e mexe alguns bolsominions raivosos invadem as minhas contas nas redes sociais e vociferam um “É comunista? Vai pra Cuba!”. Eles acham que isso é um insulto, uma ofensa, quando na verdade vejo como um ato de gentileza. Sempre que fazem isso fico muito feliz e agradeço pelo carinho. Se me mandam para Cuba, e não para os EUA, é sinal que querem o meu bem, principalmente nestes tempos de pandemia.
Tá, eu não sou tão ingênua, sei que os bolsominions dizem isso porque eles acham que Cuba é o inferno na terra, que as pessoas vivem sob uma ditadura sangrenta e que todos são infelizes e miseráveis. Quanta ignorância... Os cubanos riem quando falamos do que alguns brasileiros acham como é a vida em Cuba. Logo nós que vivemos sob um governo neofascista e estamos entregues ao que há de mais sórdido e criminoso na história política brasileira.
Esta semana eu me senti tão despossuída de esperança que só me restou pensar em Cuba, país que sou apaixonada e venho acompanhando as notícias aqui de longe. Funciona assim: fico triste, vou ver uma ação de Cuba no combate à Covid-19 e logo me encho de otimismo e fé na humanidade. Cada ação dos cubanos que vejo eu sinto um orgulho danado. Eita país que sabe superar desafios e ainda consegue ter forças para ajudar outras nações! Cuba supera furacões, o bloqueio criminoso dos EUA e agora a Covid-19. Um verdadeiro exemplo para o mundo.
Vivendo no Brasil é inevitável a comparação. Enquanto nós, junto com os EUA, somos os campeões mundiais de mortos pela Covid-19, Cuba é um dos países que controlou de forma mais rápida e eficaz a pandemia. Com uma população de 11,3 milhões de pessoas, Cuba teve 2.200 infectados e APENAS 86 MORTES NO PAÍS INTEIRO, enquanto só aqui no Rio de Janeiro diversos bairros superaram esse número. Só na Maré tivemos 81 mortes, em Bangu 325 e em Campo Grande 347 óbitos, até hoje.
E como Cuba chegou a esse resultado?
A principal razão é que o Estado cubano aplicou uma política centralizada e planificada. Mesmo sendo um país pobre, Cuba tem um dos melhores sistemas de saúde do continente, reconhecido no mundo inteiro, público, gratuito, que atende a 100% da população. Mesmo sendo um país turístico e que teve por isto vários focos precoces de infecção, seu índice neste momento é de 8 mortes por milhão de habitantes. Se o Brasil tivesse este mesmo índice, teríamos 1.696 mortes no total, enquanto hoje já temos 71.000 e a tendência é crescer muito mais.
Cuba atingiu essa marca admirável porque agiu, desde o início, da forma correta no combate à pandemia. Rapidamente tornou obrigatório o uso de máscaras e pôs em quarentena um grande número de pessoas. Todos aqueles cidadãos cujos exames deram positivo para a Covid, foram transferidos para um hospital, onde receberam antivirais e reforçadores do sistema imunológico (Cuba tem desenvolvido vacinas que fortalecem a imunidade da população, isso ajudou muito). Só depois de passar por tudo isso as pessoas foram mandadas para duas semanas de quarentena em casa. Além disso, houve o isolamento dos contatos e dos contatos dos contatos, todos sendo acompanhados de perto pelo Estado. E ainda há os centros básicos de saúde nos bairros, nos quais as pessoas recebem todos os cuidados necessários para que não transmitam a doença. Ufa! Lutar pela vida dá trabalho, mas sempre vale a pena.
O Ministério da Saúde cubano afirmou que a atuação dos estudantes de medicina em todo o país, para identificar casos suspeitos, tem sido o segredo do sucesso. Eles vasculham casos em toda a ilha de porta em porta, mapeando e isolando os assintomáticos. Assim, buscando possíveis doentes, de casa em casa, e testando todos os contatos dos testados positivos, Cuba mudou favoravelmente o rumo da pandemia. Além disso, o Ministério apresenta um detalhado relatório diário da evolução da doença. Que sonho! No Brasil não temos nem ministro quanto mais boletim ou coletiva de imprensa.
Os cubanos foram muito sagazes, demonstraram planejamento e visão. Eles encararam a Covid-19 de frente, mesmo com a falta de recursos, com a economia no limbo devido à ausência da atividade turística, sem hospitais sofisticados, sem compras virtuais, com o bloqueio dos EUA que não permitiu que chegassem insumos, remédios e equipamentos. Até mesmo as doações chinesas de máscaras faciais, kits de diagnóstico rápido e ventiladores foram impedidos de chegar ao solo cubano devido às sanções. Como sempre, os EUA buscam asfixiar Cuba, fazê-la não respirar, promovendo um terrorismo de Estado sem uma declaração oficial de guerra; mas eles não contavam com a astúcia do povo cubano.
Em Cuba o combate à pandemia contou, sobretudo, com muita cooperação dos cidadãos, diferentemente do Brasil, onde o individualismo e o egoísmo reinam. Mesmo com a pandemia controlada os cubanos não saíram reabrindo tudo desordenadamente. Estão retomando o turismo agora, aos poucos, mesmo sendo esta a sua principal fonte econômica. Eles não cogitaram reabrir antes, somente fizeram quando houve o controle da pandemia. Assim, Cuba mostrou que não há oposição entre vida e economia. Já aqui em nossas terras a escolha foi reabrir tudo enquanto os casos continuam crescendo, uma burrice descabida, que além de gerar mais mortes, vai arrastar ainda mais o desempenho econômico do nosso país.
Considerando a saúde um direto humano, Cuba valoriza a vida acima de tudo. Isso levou a permitirem que um cruzeiro britânico com cinco passageiros infectados atracasse na ilha no início da pandemia. Eles receberam o transatlântico que ninguém queria, cuidaram dos adoecidos e ainda saíram pelo mundo afora tratando gente com Covid-19.
Cuba forma médicos para atuar no mundo todo. Eles foram para a Itália no momento mais crítico da pandemia e hoje estão em mais de 27 países oferecendo ajuda humanitária. Inclusive, dezenas de nações da América Latina e Caribe, estão reunidas em uma mobilização de solidariedade continental pela concessão do Prêmio Nobel da Paz a Brigada Henry Reeve de Médicos Cubanos. Nada mais justo! Essa Brigada é formada por profissionais da saúde especializados em situação de desastres e epidemias graves. Eles atuam há mais de 15 anos e já foram em missões humanitárias em praticamente todos os países do hemisfério sul. Inclusive já estiveram aqui no Brasil, num passado recente, com mais de 14 mil médicos e médicas nos ajudando a dar atenção primária em comunidades interioranas, quilombolas, povos indígenas, assentamentos, favelas, e outros lugares os quais nenhum médico brasileiro quer ir.
“Cuba é o único país com internacionalismo genuíno”, como afirmou o filósofo Noam Chomsky. Realmente não tem coisa mais bonita que uma ilha latino-americana que exporta vida! Nem se compara com países ricos que exportam soldados e derrubam bombas em comunidades pobres. O mínimo que devemos a esse país incrível é respeito.
O modo como os cubanos lidam com o ser humano é completamente diferente do nosso. Aqui no Brasil não há interesse em cuidar do povo, temos um governo que só nos mata: de Covid, de fome ou de raiva. Em Cuba é muito diferente, há uma preocupação real com as pessoas, com o cidadão, com o indivíduo. Todos lá têm um nome, não são números como aqui.
Em Cuba não são só os médicos que têm respeito pela vida, os políticos também têm. Enquanto aqui o presidente incentiva que os seus seguidores invadam hospitais para questionar os profissionais da saúde, em Cuba há homenagens e recepções calorosas para as brigadas médicas nos aeroportos, que são transmitidas ao vivo para a população. Enquanto nós somos governados por uma gente obtusa, com egos em estado terminal que diz “E daí? Não sou coveiro.”, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse que salvar vidas tem que ser uma prioridade. E assim foi desde sempre.
Quando fui a Cuba, em 2018, não tinha pandemia nenhuma, mas ao chegar no aeroporto, havia uma equipe de profissionais de saúde, que nos pedia cartão de vacinação e faziam perguntas. Só depois disso, você está autorizado a entrar no país. Se não tiver a carteira de vacinação em dia, pode dar meia volta com a sua malinha e rumar para casa porque lá não entra. Para ver o tamanho do zelo!
Eu só tenho a te agradecer, Cuba, por me dar esperanças, por representar a vitória da vida sobre a morte, da solidariedade sobre o egoísmo, pela valentia de combater duas pandemias (o coronavírus e o bloqueio estadunidense) e ainda ter forças para ajudar outros países. Obrigada por mostrar para o mundo como a medicina somada ao respeito, a simplicidade, a generosidade, ao compromisso e a seriedade podem salvar vidas. Como disse o médico e revolucionário Che Guevara: “Não há fronteiras nesta luta de morte, nem vamos permanecer indiferentes perante o que acontecer em qualquer parte do mundo".
E não para por aí. Em Cuba não se valoriza somente os médicos, lá qualquer profissão tem a mesma importância. Não tem essa de hierarquia, de status em termos salariais ou de formação; lá os servidores públicos não são considerados meros empregados e sim como trabalhadores do Estado que servem à coletividade, não aos interesses individuais.
Aqui no Brasil é bem diferente. O abuso de autoridade reina. Secretários executivos do governo humilham garçons em transmissões ao vivo (imagina sem câmeras). Aqui, até os servidores públicos da vigilância sanitária - que estão na luta pela vida fiscalizando estabelecimentos após a reabertura - precisam de escolta armada devido às ameaças que estão sofrendo de gente raivosa que quer porque quer aglomerar.
Triste republiqueta de engenheiros civis (cidadão não!) que se sentem no topo da pirâmide social (assim como médicos e advogados, né Doutô?). Uma gente que não sabe o que é riqueza, mas se vê por cima. Que divide o mundo entre os não cidadãos, os cidadãos e por último a escória.
Esse comportamento geral como já dizia o Gonzaguinha, esse egoísmo, esse elitismo, é um dos motivos para o Brasil ter chegado aonde chegou. Somos um país pedante, de pessoas arrogantes que se orgulham de serem VIP: Vigaristas Infames Preconceituosos. Vivemos sob o equívoco da "carteirada". Somos uma sociedade essencialmente burra, discriminatória, e, por isso, cada vez mais desigual e injusta.
Não me vejo morando fora, mas ando realmente sentindo muito desgosto nestas terras. Me sinto inadequada. Eu gosto do Brasil, amo o meu país, não no sentido patriótico, como se ele fosse melhor que os outros (eu acho que o mundo nem deveria ter fronteiras!), mas, ando bem desanimada com o rumo da prosa deste lugar em que a impunidade reina.
Esta semana, por exemplo, assistimos os portões da cadeia se abrindo para secretários de saúde corruptos e se fechando para laranjas milicianos amigos do presidente. Aqui pessoas foragidas também ganham direito à prisão domiciliar, tamanho escárnio promovido pela familícia. O recado é: pode roubar à vontade que você ganha uma quarentena em casa, como todos nós estamos agora sem cometer crime algum.
Que vergonha...
Eu estou cansada de ver um negacionista estúpido (pleonasmo!) que segue eliminando pobres e negros deliberadamente, completando a sua política eugenista. Cansada de tanta irresponsabilidade no combate à crise mais séria dos últimos 100 anos.
Enquanto governos de outros países enviam máscaras gratuitamente para a casa das pessoas com manual de instrução, aqui o presidente segue dizimando a população o máximo que pode. Para Jair não adianta a orientação da OMS, não importa a comprovação da eficácia da máscara no combate à Covid-19. Ele não usa e ponto, ainda diz que usar máscara é “coisa de viado”, em mais uma mistura de genocídio com homofobia.
Fica difícil superar uma pandemia assim. Tudo aquilo que tem comprovação científica na prevenção ao coronavírus o governo veta, debocha, não cumpre; já as coisas jamais comprovadas como a tal da cloroquina, o governo segue incentivando.
A conjuntura brasileira parece uma patética telenovela das sete, banal e crua, desengraçada, repleta de imperfeições narrativas. O enredo da semana foi: O incrível caso do presidente inFAKEtado. A história se passa no Alvorada. O protagonista é um indivíduo que, em capítulos anteriores, recorreu à justiça e fez estardalhaço para não mostrar o exame, mas agora saiu correndo para dizer que se infectou. A maior ironia é que o personagem pode ter contraído o vírus no dia da independência dos EUA, numa festinha irresponsável na embaixada americana lotada de adoradores do Pateta (não o da Disney, mas o da Casa Branca).
Assim que soube do resultado do (v)exame o presidente deu uma entrevista para os jornalistas - vilões que ele odeia - sem máscara, pronto para matar. Porque para ele não basta usar a máscara como se fosse um enfeite no pescoço ou um brinco na orelha, tem que estar infectado e retirar a proteção, para contaminar os outros. Para piorar o desfecho não acabou aí, logo depois Jair fez uma live rindo, com ar de deboche, onde tomou Cloroquina como se fosse uma “Neosa”. Assim o covardão incentiva a automedicação de milhões de pessoas com um remédio extremamente perigoso para ser tomado sem orientação e que não há nenhuma comprovação científica da sua eficácia no combate à Covid. Ao contrário, o que se aponta nos estudos são os seus efeitos colaterais, como fazer o coração perder o ritmo e fazer o doente empacotar de vez.
Para Jair é fácil fazer o experimento. Ele tem médicos 24h no Palácio da Alvorada, ambulâncias à disposição e faz dois exames cardíacos por dia para monitorar o coração (quem tem cu oroquina tem medo!). Com todo esse acompanhamento é fácil brincar de cobaia, pois é muito difícil algo dar errado, diferentemente da imensa maioria do povo que segue sendo enganado. Para esta novela, a gente queria um desfecho estilo Odorico Paraguaçu, mas o fim possivelmente será outro. O protagonista não vai morrer, vai vender remédio e ainda usará a história como mais um meio de reforçar o seu negacionismo.
Não consigo me adequar a uma porcaria dessas. Então, prefiro voltar a falar da ilha caribenha.
Além da saúde, a outra prioridade de Cuba é a educação. Isso já é motivo suficiente para o meu amor aumentar. A escolarização universal com qualidade para todas as crianças em idade de cursar o ensino fundamental faz de Cuba o único país da América Latina e Caribe a alcançar todos os objetivos mensuráveis de educação. O normal por lá são crianças e jovens educados, que falam inglês fluentemente, professores dando suas aulas sem precisar gritar e espernear para ganhar a atenção dos alunos. Ah, e não há nada mais encantador que ver as crianças em filas saindo das escolas com aquele uniforme lindo e impecável.
Mais uma vez é inevitável a comparação. Enquanto Cuba erradicou o analfabetismo em meados do século passado, nós, aqui no Brasil, ainda temos 13 milhões de analfabetos. O pior é que tudo tende a piorar, pois acabamos de engolir, como ministro da Educação, um pastor “terrivelmente evangélico” nesta triste República criacionista. É lamentável saber que aqui no Brasil só existem três opções para o Ministério da Educação no momento: terraplanistas, guerrilheiros ideológicos ou fraudadores, todos privatistas. Ninguém está interessado em investir e discutir os problemas reais da educação brasileira. O MEC morreu. E o que não morreu no Brasil?
Ando tão carente de esperança que passei a ir para Cuba com frequência nos meus pensamentos, passo horas lá, revejo fotos, releio diários de viagem, pego o rum, o Cohiba e por uns instantes me livro da figura do presidente, esse ser imprestável, horripilante, que desfila sem máscara por aí todo contaminado.
Tudo que eu quero é que me mandem mais vezes para Cuba. Se me derem a passagem, melhor ainda, e não importa que seja só de ida. Eu realmente queria estar num país que destina 65% do orçamento para saúde, educação, assistência e seguridade social. Parafraseando Fidel nestes tempos pandêmicos, eu diria: Com essa pandemia, em vários países do mundo, haverá mais gente nas ruas, passando fome e morrendo de inanição. Sabe onde não haverá nada disso? Em Cuba.
Ironicamente, os cubanos têm sofrido muito menos que os cidadãos dos países dito desenvolvidos. Lá as pessoas recebem a alimentação básica pelo Estado e todos têm a garantia da subsistência. Os cubanos são acostumados com pouco, mas quando o cerco aperta, eles podem ter a certeza que não estarão abandonados à própria sorte.
Quero que me mandem mais para Cuba, porque tudo que desejo é voltar à ilha mais legal da América Latina. Não vejo a hora de ver as cenas típicas locais, a sorveteria estatal, as vendas nas casas, os bares, as escolas, os monumentos nacionais, os painéis saudosos dos líderes revolucionários, a pracinha com as crianças brincando, o popular beisebol sendo jogado nos campos das ruas, os cocotáxis e aqueles lindos possantes russos e americanos dos anos 1950, numa espetacular roda de imagens que tem a capacidade de nos transportar para uma realidade paralela.
Como disse Ernest Hemingway: “Quando um ser humano se sente em casa, fora do lugar onde nasceu, esse lugar é onde deve ir para sempre”. É verdade, Cuba é o meu país de coração, eu não vejo a hora de reencontrar aquele povo solidário, simpático, amoroso, muito culto, que fala de todos os assuntos com desenvoltura. Conto os minutos para pisar novamente naquele país único, incomparável, lindo, colorido, boêmio, alegre e com uma musicalidade incrível.
Tudo que eu quero é um novo encontro com o mar caribenho, mergulhar naquelas águas azul-verde-clarinhas dependendo da inclinação incidente dos raios solares e da finura das areias. Tudo que eu quero é sentir novamente aquele prazer gastronômico indescritível das lagostas e camarões. Tudo que quero é respirar novamente aquela atmosfera revolucionária, tomar um Cuba Libre na noite de Trinidad, um mojito no Bodeguita, apreciar a água batendo no Malecón de Havana, ouvir a adorável melodia chiclete de “Guantanamera”, e a constante repetição de “Comandante Che Guevara”, que pode tocar mil vezes que eu não enjoo nunca e sempre sinto uma emoção diferente.
Ahh como eu quero voltar para aquele país que muitos acusam de haver uma “ditadura”. Uma “ditadura” em que milhares de cidadãos apoiam seus líderes há 60 anos; uma “ditadura” que as pessoas são felizes, bem informadas, têm cultura, saúde e educação de qualidade; uma “ditadura” que permite a coexistência de diversas religiões e que não deixa a religião interferir no Estado; uma “ditadura” em que o voto não é obrigatório, mas a população comparece em massa nas urnas; uma “ditadura” que apresenta na TV programas que divulgam o orçamento e dizem para onde está indo o dinheiro dos impostos pagos pela população; uma “ditadura” em que as pessoas fazem críticas ao governo e participam ativamente da política; uma “ditadura” que não quer metralhar o oponente. Saudade de uma ditadura assim. “Pai, afasta de mim esse cálice”, mas se tiver Daiquiri, Mojito ou Cuba Livre, aproxime!
Te quiero, Cuba!
Vivendo nesta quarentena sem perspectiva de futuro, eu só tenho a agradecer ao país que ainda me permite sonhar. Nesse mundo em que o único senhor é o mercado financeiro em meio a uma crise civilizacional em que a barbárie é a regra e a alternativa aparentemente não existe, eu continuo acreditando que o socialismo é o horizonte, todavia, não quero que seja necessariamente como é em Cuba ou em qualquer lugar onde a burocracia centralizada do Estado se instalou, mas também não deixo de considerar todos os acertos de uma revolução que foi o que pôde ser e não o que desejou ser.
Por fim, quero dizer que este diário foi sobretudo uma declaração de amor à Cuba, uma ilha cheia de paradoxo, um país periférico cercado de capitalismo selvagem por todos os lados, mas que representa uma sociedade mais autoconsciente, mais humana, uma espécie de reserva social de valores humanos que o resto do mundo insiste em destruir. É uma lição do que precisamos.
Viva nossos irmãos cubanos! Hasta la victoria, siempre!
*Amanda Moreira é professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, doutora em Educação e cronista pandêmica de fim de semana.
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1 - Imagem de capa: iStockphoto/Getty Images
2 - Imagem interna : Augustin de Montesquiou - ago.2017